Pular para o conteúdo principal

conquista de um novo projeto na Pedra do Cachorro - por enquanto com cerca de 330m - VIIb - E4/5 - A0 no lance dos blocos soltos, pisar no grampo





08/10/2010
Após o planejamento de algumas semanas, e uma impressionante falta de informações, cancelamos a ida uma vez, mas agora vai...consegui o telefone do Bal (proprietário de um dos terrenos que fazem divisa com a pedra), com a Carla, isso foi na sexta dia 08 as 17:00horas, já havia dito ao Heraldo para pegar um ônibus e nos aguardar em Caruaru, para irmos direto a São Caetano – PE, porém após conversa com Bal, que me atendeu super bem, foi muito simpático e recomendou que chegássemos somente no dia seguinte e cedo, pois a noite o local seria perigoso, procurássemos o Jailson morador do local. Lula chegou aqui em Recife, juntamos os equipamentos, conversamos rapidamente para ver se não faltava nada e partimos, chegando em Caruaru pegamos o Heraldo na Rodoviária e lhe demos a triste noticia que iríamos dormir em Brejo, para partir somente na madrugada seguinte para São Caetano, ele um excelente soldado, não reclamou e aceitou o imprevisto, partimos para Brejo, aproveitamos para abastecer o carro, pegar mais duas cordas, duas baterias e mais 40 grampos, e dormir no abrigo gentilmente cedido pela Prefeitura de Brejo - PE; Dormimos apenas após a meia noite.
09/10/2010
Na manhã de sábado, as 4:00 horas, bate o Lula na minha porta, fui até a cozinha e já senti o cheirinho de cuscuz e café, é excelente ter bons parceiros.
Chegando no Lago da onça, em São Caetano, perguntamos por Jailson, chegamos em sua residência e o cara não poderia ter sido mais simpático e prestativo, nos levou até uma casa que poderíamos utilizar como abrigo, seu filho Hugo, se prontificou a nos guiar até a base da pedra, mostrei a linha que eu queria conquistar e ele falou que era entre as bases de outras duas vias, a Ilusão do Sertão, a direita e Number One a esquerda.
Arrumamos os equipamentos e partimos rapidamente, iniciamos a conquista por onde imaginávamos ser um trepa pedra, nos enganamos e tivemos de nos equipar no meio do caminho, Lula achou uma fenda para colocar um móvel bateu mais dois grampos foi até um platô de mato, e eu bati um grampo onde estava parado para dar sua segurança, estava iniciada a conquista, esta enfiada ficou um pouco exposta...
Reunimos-nos nesta que era a parada dos 60m, corda esticadinha, assumi a ponta da corda e inicie a conquista até os 90m, tentei me aproximar do diedro, porém não foi um bom negocio e continuei rumado para cima sem utilizá-lo, cheguei até um buraco e fiz a parada dos 90m, puxei as mochilas e nos reunimos, deixamos tudo encordado.
Lula assumiu a ponta da corda, partiu para a esquerda, em lances técnicos e estranhos, duplicando uma parada nos 120m, nos reunimos novamente, ao chegar na parada Lula me diz: - é, as agarras sumiram um pouco, mas toca ai para a esquerda para ver o que é que dá...
Beleza, toquei os lances um pouco técnicos, alternando com buracos bons, e fiz a parada dos 150m, deixamos tudo encordado, dos 60m até aqui, ficou um pouco mais protegido que o inicio, chegamos na base já era escuro, Hugo nosso fiel guia da trilha estava lá nos esperando cabra bom! Tomamos um banho no lago, comemos uma lentilha e as 21:00 horas estávamos na cama.
Dia 10/10/2010
Resolvemos acordar mais tarde neste dia, para descansar um pouco e aproveitar a sombra, que só inicia após o meio dia nos trechos que tem buracos e diedros, tomamos um café reforçado, fomos ao lago da onça tomar um banho e fazer umas fotos, retornamos ao abrigo, comemos um macarrão e partimos para a pedra as 12:00hs, Hugo, nosso guia estava lá de prontidão, chegando na pedra, tivemos de jumarear, prussicar e acender com o ropeman, cada um se virou com o equipamento que tinha. Chegamos um pouco tarde no local que havíamos parado no dia anterior, acho que erramos na estratégia, mas tudo bem, Lula assumiu a ponta da corda e iniciou a conquista tocando numa diagonal para a esquerda, se enfiando em uma canelura, com bastante suja, mas muito vertical, um luxo, com agarras, buracos, possibilidade de diedrar, alguns lances na casa dos VII grau, Lula fez uma parada no meio e me puxou, decidimos que seria mais proveitoso o pouco tempo de luz que nos restava se ele continuasse conquistando, a coisa complicou um pouco, no final tem uma barriguinha, depois desta lances muito técnicos, a luz acabou e conquistamos 45m neste dia chegando aos 195m, vou te falar que o Lula mandou muito bem, chegamos na base as 19:00 horas, Hugo estava lá, sobre o pé de caju nos aguardando, tomamos um banho no lago e jantamos, decidimos que no dia seguinte sairíamos cedo, para render mais, avaliamos que nossas condições físicas já estavam precárias e não agüentaríamos um quarto dia de dureza...
11/10/2010

Acordamos as 5:00 horas, chegamos na base as 7:00 horas, neste dia vi que Deus estava do nosso lado, pois parecia que o dia iria alternar nublado e sol causticante, Lula jumareou na frente, eu cedi um ropeman ao Heraldo, subi com o gri-gri e o outro ropeman, levando uma pesada mochila, sofri muito e cheguei nos 180m exausto, Lula duplicou a parada e eu tinha a responsabilidade de iniciar a conquista neste dia, respirei fundo, rezei baixinho um pouco e parti para cima. Bati dois grampos em um lance bem delicado e técnico, de VI, outro lance estranho para a esquerda, cheguei no inicio de uma racha, que batizamos de vagina, desde o dia que visualizamos a pedra pela primeira vez, queríamos passar ali por dentro, estiquei alguns metros, até a base de um bloco do tamanho de um carro em pé, ficou bem exposto, fiz mais um lance tesourando com o bloco e a parede, bati outro grampo, subi utilizando a técnica de chaminé mais alguns metros, a queda seria fator 2, bati outro grampo, visualizei que o sobre o bloco grande, existe outro do tamanho de uma geladeira, vacilei em subir sobre o mesmo, e resolvi bater a parada ali mesmo, como só tinha esticado menos de 30m, resolvi tentar subir, bati no bloco de cima e ele vibrou, fiz mais uma tentativa e minhas pernas começaram a tremer, bati um grampo e desci até a parada menos de 2m abaixo, expliquei a situação ao Lula, e decidimos que ele reuniria comigo, e Babau ficaria mais abaixo, protegido em caso de a rocha menor despencar, assim que Lula chegou parti para cima, hora chaminé, hora tesoura, subi uns 15m, cansei com tanto calor, sujeira e pressão psicológica, abandonei os equipos de conquista no ultimo grampo, solicitei que fosse descido até a parada, Lula subiu e continuou a conquista daqueles lances escrotos, foi subindo, batendo poucos grampos, cerca de 2 acho, fez a virada, e bateu um grampo, outro E3, a partir daí começou a puxar corda e não parou mais, pensei que estava fácil, mas depois repetindo o lance, vi que se tratava de um lance de V, meio delicado, e muito exposto E4 talvez E5, considere o segundo para garantir, esticou novamente a corda, mais 15m, bateu a parada e me chamou, dividimos o peso, eu e Babau, subimos, não foi fácil aquela altura, sol quente e cansaço acumulado, ali era a parada de 300m, peguei a ponta da corda disposto a esticar 30m, pois não agüentava mais, porém os lances eram de agarrêcia, mais aderência do que agarra, cerca de VI grau alguns lances, foram Necessários 5 grampos para esticar 30m, no ultimo quebrou a única broca de 12mm boa que tínhamos, mesmo assim não queria desistir, achava que poderia esticar pelo menos mais 30m e bater um grampo com a broca ruim, novamente a visão e a instiga me enganaram, tratava-se de agarrência de VI grau, devo ter subido uns 6m, bati um grampo e me rendi, era hora de descer, abortar a conclusão da conquista, estávamos a 340m, faltava pouco, quase chorei, conversei com Lula, que achou correto e mais inteligente descer e já ir tirando os equipamentos da via, minha lanterna tinha falhado na noite anterior, estávamos sem brocas, e muito exaustos, acreditem, não foi fácil conquistar esses 340m, a via é muito exigente. Bem, decisão tomada, iniciamos a descida, rapelei os primeiros 60m, Babau desceu, Lula em seguida, falamos para o Babau fazer o segundo rapel na frente, Babau foi, e levou as lanternas, kkk, puxamos as cordas e as fdp enroscaram, nos olhamos e Lula falou, é vamos ter de escalar, fiquei quieto, ele colocou a sapara e partiu, tomou uma queda assustadora, no meio da vagina, fiquei branco, mas nada demais, após resolver este problema, Lula desceu primeiro, e eu fiquei no breu, tive de rapelar sem lanterna, incluía neste pacote a diagonal antes do vertical da canalura, lá fui eu, ouvindo as vozes de Lula e Babau, e tateando no escuro, fomos recolhendo as cordas, que no total eram seis, cheguei primeiro na base, calculei o peso de minha mochila, mais de 20kg, meus parceiros não estavam em situação diferente, Hugo, já estava na base nos aguardando, menino de ouro este. Ajeitamos as cargas, e fomos descendo com cuidado, no inicio da trilha de descida é um ângulo de 45 graus com pedras soldas, tivemos de progredir devagar, após 35min mais ou menos, solicitei uma parada, ninguém foi contra, deitamos de barriga para cima sobre a rocha quente, e vislumbramos um céu muito estrelado, ai pensei “é por isso que eu escalo”, agradeci mais uma vez a Deus e convidei a galera a continuar a trilha, mais 20 minutos e estávamos no abrigo, recompensamos Hugo da melhor forma possível para nossas condições, todos os escaladores que freqüentarem o local deveriam fazer o mesmo, não tínhamos mais água, fomos comprar outro galão de 20 litros em São Caetano, na volta paramos para nos banhar no lago da onça, nem todos encararam, pois estava bem frio, retornamos ao abrigo, pudemos fazer a janta e avaliar nosso feito, podíamos ficar satisfeitos com nosso desempenho!!!!

Agradecimentos:
Hugo, Jailson, Bal, Alex Guardiola, Prefeitura Municipal de Brejo da Madre de Deus, Equinox, Carla, Nequinho, Mirthes, Clovis, Caui, Geyson, Beth Mas, Sávio, Sandra Pasqualon, Candice, Povo das proximidades do lago da Onça, alguns nos deram feijão e gerimum, Guaraci e a todos que de uma forma ou de outra nos ajudaram.

Informações importantes:
Ao decidir escalar na Pedra do Cachorro, entrar em contato com os Proprietários dos terrenos próximos: Bal, Nequinho e Guaraci, tem outros mas não conheço. No local não tem água potável, em 03 consumimos 60 litros de água em 03 dias, 03 galões de 20litros, Jailson e Hugo sabem informar onde vende, banho somente no Lago da Onça, caso tenha gaviões na linha da via, não escalar, preserve o meio ambiente!

Dagoberto Ivan Vieira

Comentários

Cauí Vieira disse…
hehehehehe
isso é que é um título!!!
parabéns e terminem logo que quero ir lá!!
flwww
Menger of Stone disse…
Ae, diminui a qtd de caracteres do título, tá muito grande, fica ruim pros sites que buscam o feed.
Show de bola a via, dispensa coments, hehe, tome esticão pra cima. Tenho que conseguir um cume na pedra do cachorro, já fui la duas vezes e nunca fiz cume, afe, tá dando no saco já. Gostei do relato, só não falou do que cada um sonhou a noite, no mais tudo explicadin, hehe, show.
Chalegre disse…
as noite foram impublicaveis.... nao pergunta, gaucho!
dagoivan disse…
Melhoramos algumas proteçoes no ultimo final de semana, porém ainda tem alguns trechos expostos, ainda não vamos alterar o grau de exposição, somente quando concluir a via, quem estiver afim de repetir o projeto, entre com cuidado! O projeto está show, quem quiser entrar tem 330m concluidos e da vagina para baixo, dá para rapelar com uma corda de 60m.

Postagens mais visitadas deste blog

Pedra do Caboclo - Belo Jardim

A Pedra do Caboclo, localizada no município de Belo Jardim ganhou após muitos anos de namoro, sua primeira via de escalada tradicional, e não tem definição melhor pra via do que "tradicional": chaminé + móvel. Por lá havia apenas uma via esportiva, aberta pelos escaladores locais, a qual não tive oportunidade de entrar, mas olhando de longe pareceu bem interessante. Existe também uma bonita trilha de acesso ao cume, que inclusive, usamos pra chegar na base da via, estranho né? Mas é isso mesmo. A minha primeira ida ao local não teve muito sucesso, fomos em um domingo, com somente um dia disponível e sem muita informação. Tentamos abrir uma trilha reta por baixo pra chegar na base da parede, mas ao meio dia estávamos longe da pedra, o terreno tava complicado e a progressão lenta, abortamos a missão. Depois conheci o pessoal de lá, um deles, o Bruno, que tinha acabado de fazer o curso básico e conhece bem a região. Ele disse que o melhor caminho seria subir até o cume

Escalada em Macaparana - Pedra do Bico

No início do ano passei a trabalho por um lugar fantástico chamado Pedra do Bico, localizado perto do distrito de Pirauá, em Macaparana/PE, distante aproximadamente 130 km de Recife, estrada boa, trilha curta e ótimas possibilidades!  Pedra do Bico, ainda sem vias. Miguel na Liberdade (7a) - Pedra do Navio Algum tempo depois começamos as investidas, fomos umas 4 ou 5 vezes no local pra abrir vias, algumas vezes mesmo com chuva conseguíamos deixar algo novo por lá!  Pedra do Jumento? Cauí na Docinho de Coco (IVsup) - Pedra do Navio Até o momento são 14 vias ao todo, sendo que duas delas (top ropes) já estavam por lá. As vias atualmente variam do IV ao 7c, a maioria é vertical com agarras, mas tem fenda, chaminé e tudo mais pra quem quer variar um pouco. Ainda tem muita coisa legal pra abrir também!  Cauí na Terror na Tenere (7b) - Pedra do Navio  Possibilidades...Pedra do Bico Miguel equipando a Liberdade (7a) O pico é uma ótima opção pra escala

Triunfo - Escalada no Sertão de Pernambuco

Alexandre e Fernanda são um casal de escaladores mineiros que recentemente se mudaram pra Triunfo/PE, e assim que eles chegaram lá e se organizaram, marcamos uma trip pra conhecer as pedras da região! Vale do catimbau visto da estrada, animal! Triunfo é uma cidade única, estilo oásis no sertão, literalmente. São 400 km de distância de Recife, já no sertão do estado de Pernambuco. A cidade fica numa região elevada, o que faz com que a temperatura lá seja baixa, atraindo turistas de todos os tipos ao longo do ano. Lagoa de triunfo, tem até um teleférico aí!! Alexandre já tinha dado um rolé por lá e conhecido algumas pedras, possíveis setores de escalada. Ele nos levou no primeiro dia no Poço do Grito, um cânion com um riosinho e uns pocinhos d'água legais, além é claro de falésias vermelhas com possibilidades de muitas vias! Contam a história de que Lampião se escondia por ali, dá até pra entender porque. Acabamos focando todos os três dias no mesmo local, o resul